quinta-feira, 28 de junho de 2018

Gênese Intelectual

Ao ver a Jill Bolte Taylor falando sobre como durante um derrame (ao perder controle sobre a capacidade de tecer símbolos) ela pode percerber os componentes de tudo ao seu redor, inclusive partículas, passei a refletir sobre este outro lado da inteligência que é a capacidade de destruir símbolos.
Vejo que o trabalho dito intelectual no cotidiano se concentra em construir símbolos apenas, e não em destruir, e isso no fundo difere o sábio do intelectual, o erudito do conhecedor.

Mas o que é destruir símbolos? É questionar pressupostos, crenças, nas ideias, nos fatos, na mente, no corpo. Uma cultura que cria muitos símbolos e não tem a mesma capacidade de destrui-los se torna poluída. O mesmo para uma pessoa assim. E não só, numa pessoa que só edifica, o conhecimento acaba virando crença. Num excesso de símbolos apenas o mecânico pode reinar, nunca o orgânico. É a burrice da intelectualidade. Por isso o contemplador, adquire capacidades intelectuais singulares, contemplar é uma arte, uma destruição profunda de símbolos.

Arte e contemplação... nossas braçadas contra a corrente.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Ode aos antigos fortes

Contando metade da história e afirmando ser história inteira,
convenceram os fortes de que a força é um erro,
de que ela é má, de que ela é um peso.


Força, mera ferramenta, deve servir e nunca questionar.
O correto é ser polido, e de dentro da máscara verborrajar,
pensar, impotenciar, se fingir paralisado, atacar pelas costas.
A onda é manipular, é sorrir amarelo. É relativizar até o mais duro dos ferros.

Labirinto do minotauro intelectual, perdição, controle, depressão.
Eterna doença, sansara dos povos.

A resposta sempre tomada como absurda, nunca a pergunta, nunca a provocação.
E a punição prometida está lá escondida nas entrelinhas.
A violência invisível continua despercebida, e
protegida no intelecto nunca será julgada. 
 
Em mim a força emana da terra, do corpo, é precognição.
Se justa equilibra, e mesmo em fogo trás logo sublimação.
Se ajusta, vibra, é viva.
Sensações.... a ação emerge como resposta natural.
O pensamento colocado em seu devido lugar.
E a doença? Ela se afasta...
Na luz uma sombra não é nada.

Respiro aliviado junto aos meus ancestrais.
Eu os honro. Eu os corrijo. Eu os liberto.
Viva a força, viva o homem, viva o masculino.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Maturidade não se importa com culpa.

Se você já usou a frase "A culpa não é minha, eu votei em...", este texto é para você.
Seja Dilma ou Aécio, ou nulo, ou branco, ou Levy Fidélix, Marina ou Eduardo Jorge, fique tranquilo... não foi mesmo seu voto que criou a situação atual. Até porque ele é algo insignificante.

Sua infantilidade em querer achar um culpado para tudo, para assim "lavar suas mãos", essa sim é problemática. Essa é a resposta da criança quando surge um problema "Não fui eu" "A culpa não é minha!". Você tem medo de ser castigado? De dizerem que a culpa foi sua? Pior... você espera que uma mãe/pai, grande cuidador, apareça para limpar sua sujeira.

E todos nós sabemos quem você espera como grande cuidador. Homens lendários, heróis, protetores, mitos. Tudo para nunca sair da infância, para nunca entender que você é responsável pelo que te acontece e para nunca perceber que estas figuras são só figuras e vão te decepcionar como papai e mamãe fizeram.

Você não deve nada ao mundo, mas o mundo deve tudo a você. Né não?

Mas e daí que a culpa não é sua? Pessoas maduras, na medida do possível, arrumam, limpam, consertam, organizam as coisas, não importa de quem foi a culpa. Se vai melhorar para elas, para os que estão ao redor, qual é o problema em ajudar? Mas você só quer ver seu time "campeão", ou ver tudo afundar para dizer que a culpa não foi sua. E neste sentido, a culpa é sim sua e de todas as pessoas que são como você.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

O caminho de Tim Raue: Uma discussão sobre a relação Indivíduo-Familia-Estado-Cultura.

Ontem assisti o episódio do seriado Chef's Table (Netflix) sobre o chef alemão Tim Raue.
O seriado é bem produzido e desenvolvido, apresenta um pouco sobre destacados nomes da gastronomia mundial.
Mas o episódio sobre Tim Raue me fez pensar em outras coisas além da gastronomia.
Raue nasceu na pobreza, na guerra fria e sofreu muito, tanto pela omissão de uma mãe incapaz (segundo ele) quanto pela violência de um pai desequilibrado.
Tendo essa má experiência/influência na infância, teve uma adolescência ligada a gangues. Roubos, brigas, espancamentos... muito ódio.
Com o tempo, sacou que não viveria muito ali naquela situação. Se cadastrou nestes programas de realocação de desempregados e num teste vocacional viu como possibilidade ser chef de cozinha.
Descobriu logo que tinha o dom pra isso. Batalhou, teve disciplina. Revolucionou literalmente a vida das pessoas de Berlim - dizem que ele foi o estopim de um movimento cultural maior na cidade. Hoje um dos mais renomados chefes do mundo.

Poderia soar como uma historinha de autoajuda ou de glorificação à meritocracia, mas não... quero discutir com este exemplo as relações entre Indivíduo, Família, Estado e Cultura (que na verdade são vários níveis da mesma coisa).

Tim deve ter sofrido muito na infância. Fiquei triste por ver seu relato. Tenho filhos pequenos e assim fica mais fácil ter empatia por crianças em situação de abuso. Com o abuso na infância, o amor próprio se esvaiu, o que fez o adolescente Tim buscar a autodestruição, numa tentativa de expurgar a tristeza desta família e de quebrar o congelamento que o ódio gerou em sua vida. Na historinha meritocrática, viria aqui que ele sozinho superou suas pedras, que elas na verdade fortaleceram ele, que ele isoladamente conquistou o mundo. Pura balela.

Tim é um gênio... e se mesmo com toda a dor que teve na infância ele floresceu em gênio, com muito amor e atenção na infância aposto que ele teria ido ainda mais longe, mais exuberante, mais pleno, mais sutil, sei lá. Principalmente numa cultura como a Alemã.

Além disso, quando Tim percebeu que deveria abandonar o mundo da violência, ele encontrou um Estado que o amparou. Ficou claro onde era a saída da marginalidade.
Imagina no Brasil... um cara lá, na criminalidade, na marginalidade, anos 90, decide sair e de pronto já ganha do Estado teste vocacional e colocação no mercado. Não em um subemprego como caixa de supermercado, mas como chefe de cozinha.

Na minha opinião, o Estado não deve distribuir riqueza, como diz a leitura simplista socialista, mas o Estado deveria favorecer a distribuição das oportunidades. Um indivíduo na mesma situação de Tim, só que no Brasil, não teria saída clara do mundo marginal. Não teria oportunidade. E isso já o condenaria.

A maturidade de Tim, ao resolver abandonar o mundo das gangues, tem relação também com sua cultura Alemã. Uma cultura que coloca mais responsabilidade no indivíduo, do que na sociedade, gerando um ambiente menos favorável a oportunismos. Uma cultura sem grandes embates de classes, mais homogênea em desejos, onde emergem mais facilmente consensos sobre a busca de bem-estar social, sobre o papel do governo.

Resumindo... (sem querer encerrar ou simplificar a discussão sobre a história de Tim Raue): Tim conseguiu chegar onde chegou, e ajudar assim seu país, não por mérito isolado de seu indivíduo, mas pelas oportunidades que o Estado lhe proporcionou e pelo fundo cultural em que nasceu. Mesmo sua família sendo uma força negativa, uma barreira, ele continuou tendo oportunidades. De sua singularidade veio o desdobramento da história, mas sem oportunidades, não existiria sua história de êxito.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Há um vilarejo ali...

Eu moro num lugar legal.
Chamam lá de Clareando.
Ecovila Clareando.
Mas é só um lugar. Ignorem esse negócio de ecovila....
É bonito lá. Tem natureza. Ar limpo. Água pura. Um bom solo.
Mas é só um lugar.
Um lugar que me dá liberdade de experimentar coisas que outros lugares não permitiriam.
Por isso estou lá.

É um lugar que começou a ser habitado de fato tem pouco tempo.
Lá tá se formando uma comunidade.
Tamo chegando... tamo se entendendo.
Mas a comunidade num é a Clareando.
A Clareando é outra coisa. A Clareando é só um lugar.

Comunidade tem relação com afinidade.
Tem relação com trocas.
A gente se gosta...
Eles me aceitam mesmo eu sendo ranzinza
Eu aceito eles mesmo eles sendo um bando de malucos.
Essa comunidade é pequena... algumas famílias...
Umas oito ou dez.

Ninguém perfeito... mas já mais bem resolvidos.
Menos vítimas, menos carentes, menos infantis... por isso nos entendemos.
E por isso nos cobramos, e nos envolvemos e evoluímos.
Cada um na sua... e ao mesmo tempo todo mundo junto.
Diferentes, com visões similares.
Só nós enxergamos nossa riqueza.

Clareando já foi (e é) palco de muita coisa.
De ganância e ignorância. De disputas de gurus, de egos, de lamentações, de frustrações.
De quebras de infantis expectativas. De amores, de aliens, de fim do mundo.
Hoje também palco da comunidade.

Na comunidade você não entra porque comprou terreno, como na ecovila.
É um contexto... você olha e simplesmente faz parte. Porque faz. Porque parte.
Não é voluntário. Num adianta forçar, num adianta copiar o que essas pessoas fazem.
Comunhão não é algo que se compra.

Muitos compram terrenos e não entram pra comunidade.
Não porque voluntariamente são repelidos... falta sintonia mesmo...
Não entram pelo cansaço que causariam. Por seus incompatíveis inconscientes.

Acho que a Clareando é terreno fértil para nossa comunidade...
Mas não fértil para os modos urbanos desconectados de muitos compradores de terrenos...
Assim, é questão de tempo a comunidade florir e predominar enquanto modo de vida, para outros como os nossos chegarem. É uma tendência ao equilíbrio e à coerência.
Mas o tempo.. só ele sabe de seu ritmo.

O importante é que estamos no palco... e o show está apenas começando.
E aos mais atentos já está claro que "há um vilarejo ali...".

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Quicando na corrente.

Seja ruim, seja mal, seja bom...
O que o momente pedir..
Obediente ou desordeiro.
Irresponsável ou cético..

Num fluxo de Kelso...

Não existe certo e errado...

domingo, 4 de setembro de 2016

Misticismo

A mística é real... é sútil...
É um movimento de contra-fantasia.
É um movimento de maturidade, de responsabilidade.
De contra-infantilidadevitismo. Ser vítima é ser criança.

Mística real é respirar, é ver a lacuna da explicação... preenche-la com pés e mãos... e ausências.

É entrega atenta e não fantasia de controle. É Dom Juan, e não Anastasia. É Guimarães Rosa e não best-seller. É poeira da terra e não facebook.

Mística real existe, normalmente bem longe de quem se declara místico...